sexta-feira, 26 de junho de 2009
O governo do Estado de São Paulo decidiu em abril desse ano pela proibição do fumo em locais fechados. A Lei proibiria até mesmo a existência dos chamados “fumódromos”. No dia 24 de junho a justiça concedeu uma liminar que inviabiliza a Lei Antifumo de São Paulo. A liminar foi concedida a pedido da Associação Brasileira de Gastronomia, Hospedagem e Turismo. O setor afirma que serão diretamente prejudicados com a exclusão de áreas para fumantes em seus estabelecimentos. A Lei passaria a vigorar em agosto.
José Serra anunciou a caça aos fumantes. Quer proibi-los de praticar seu vício publicamente e garante que a Lei é constitucional. No mês em que entraria em vigor essa medida, estará disponível para comercialização o produto Smoking Everywhere – E-Cigarette – um cigarro eletrônico importado dos Estados Unidos pelo Museu das Invenções, ligado à Associação Nacional dos Inventores (ANI) - entidade sem fins lucrativos que apóia e estimula novos produtos e idéias inovadoras.
O produto parece e até tem gosto de um cigarro tradicional, mas não contém alcatrão nem provoca cheiro, combustão, fogo, fumaça ou emissão de monóxido de carbono ou cinzas. Mas nem todos acreditam que o invento poderá satisfazer o vício do cigarro. Para Fabiana Dias o aparelho não passa de um brinquedo tecnológico. “Quem é viciado não vai deixar de fumar por causa de um brinquedinho. O invento poderia conter algum remédio que diminuísse a vontade de consumir o cigarro”.
O E-Cigarette é baseado em tecnologia microeletrônica. É composto por um filtro aromatizado, um nebulizador que provoca fumaça de vapor d’água e um chip inteligente com bateria recarregável de lítio. Uma luz-piloto se acende quando em funcionamento, imitando a brasa de um cigarro. O cigarro eletrônico é uma alternativa para fumantes que não conseguem perder o costume de pegar o cigarro, colocá-lo na boca e segurá-lo entre os dedos, além da sensação de soltar a fumaça. O produto já vem sendo comercializado com sucesso no estado norte-americano da Flórida.
O kit – composto de cigarro, carregador e filtros – tem previsão de custo para o consumidor brasileiro será de aproximadamente R$ 500. O filtro de reposição, nos sabores tabaco, mentol, cravo, café, chocolate, baunilha, morango, cereja e maçã, vendido em caixas com cinco unidades, deverá custar cerca de R$ 10.
Resta saber se a Lei antifumo atingira também o novo aparato tecnológico.
sexta-feira, 12 de junho de 2009
Juventude viciada
Que o cigarro faz mal a saúde e que grande parcela da população mundial é fumante todos sabem. Mas por que milhões de jovens insistem em entrar para essa estatística?
A tendência é mais preocupante pela ameaça que representa no futuro: quanto mais cedo a pessoa começa a fumar, mais difícil deixar o cigarro. Pesquisas da OMS indicam que 90% dos fumantes brasileiros começaram entre 5 e 18 anos e não percebem os efeitos causados pelo tabaco.
Foi-se o tempo em que um cigarro na mão era sinônimo de independência, de ser “o bom” da turma. Hoje, a nicotina é mais democrática, atinge todas as tribos: playboys, patricinhas, a galera do fundão, "nerds", skatistas, emos, punks e alternativos. O cigarro já chegou ao alcance de todos.
Também ficou no passado aquela fase de glamour do cigarro. A atual geração de adolescentes não acha que o cigarro é legal porque vê Brad Pitts e Angelina Jolies acendendo Marlboros na tela. Quase todos afirmam que fumar é prejudicial. Os adolescentes de hoje não associam fumo ao charme, fumam por outros motivos. E o principal deles é a aceitação em algum grupo.
Desde que o mundo é mundo o adolescente quer ser adulto, assim como a criança quer ser adolescente. O cigarro ainda é associado a pessoas adultas. Está aí o principal motivo para que tantos jovens ingressem na vida de fumante. O desejo de se tornarem adultos e donos de si o quanto antes.
Quanto aos efeitos do consumo de tabaco por adolescentes, a curto prazo, é possível prever a leve obstrução das vias respiratórias, o funcionamento pulmonar reduzido, além de apresentar dois ou três batimentos cardíacos por minuto mais rápidos do que em jovens não fumantes. Estudos revelam ainda a ocorrência de sinais prematuros de problemas cardíacos e derrames. Segundo a OMS, normalmente o vício do tabaco começa antes dos 18 anos, e os seus efeitos a longo prazo são a incidência de câncer de pulmão, de estômago, derrame e aterosclerose coronariana.
Alguns ainda percebem os males a tempo, mas mesmo assim a batalha contra o cigarro é um pouco desleal. Para Yuri Gonçalves, de 18 anos, largar o vicio é tarefa muito difícil. “Fumo desde os 14 anos, e há um mês, mais ou menos, decidi que preciso parar de fumar. Fumo menos que antes, mas ainda fumo.” Os amigos de Yuri perceberam a situação do amigo quando ele começou com crises de tosse intermináveis. Alguns deles fumam, mas nem assim se comoveram com o exemplo. “Eu estou tentando parar em razão da minha saúde, os meus amigos me incentivam, mas nem por isso pretendem parar também. Essas coisas são complicadas.”
A OMS considera o tabagismo uma doença pediátrica, dado que grande parte dos fumantes experimenta o primeiro cigarro e fica dependente antes dos 18 anos de idade. Segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), órgão brasileiro vinculado ao Ministério da Saúde, cerca de 100 mil jovens começam a fumar todos os dias no mundo, mas nos últimos 20 anos caiu pela metade o número de jovens fumantes.
O controle do tabagismo deve começar com ações voltadas para jovens. Segundo Deborah Malta, coordenadora da área de Doenças e Agravos Não Transmissíveis do Ministério da Saúde, “A adolescência é a época mais comum para a iniciação ao tabagismo, por isto é preciso estar atento e desenvolver políticas públicas para prevenir este hábito precoce. Como já existem inúmeras leis antitabagistas e ações educativas, os jovens hoje são menos expostos que no passado e por isto têm fumado menos”. (Leia mais)
sexta-feira, 29 de maio de 2009
Proibir é a solução?
Embora a ciência mostre os malefícios do tabaco, seu uso ainda gera discussão. Mais ainda as maneiras que se divulgam esses produtos. Por exemplo, por conta da proibição de propagandas relacionadas ao tabaco em países desenvolvidos, os países subdesenvolvidos se tornaram alvos, pela dificuldade de legislações rigorosas, ou pela ausência de medidas abrangentes para controle do tabagismo. Em razão disso, estes tornaram-se vulneráveis às agressivas estratégias de marketing das grandes companhias de tabaco. Há cerca de 20 anos, no Brasil, o Ministério da Saúde, por meio do Instituto Nacional de Câncer, vem articulando ações de abrangência nacional. Entretanto, há uma outra visão dos acontecimentos por parte das grandes empresas produtoras e exportadoras do tabaco e dos cigarros, visto que veiculam o discurso que seus produtos são feitos com a maior qualidade, e que é responsabilidade do consumidor, saber como e quando utilizá-lo.
As propagandas têm grande poder de persuasão na sociedade. Antes eram veiculadas pelo fato de transmitirem poder, charme e liberdade, sendo hoje proibidas a partir da Lei 9294/96, visto que o uso do tabaco é prejudicial à saúde. Essa trajetória da propaganda de cigarros para a antipropaganda acarretou a conscientização dos malefícios causados pelo cigarro. A divulgação comercial de cigarro sofre diversas restrições, como, por exemplo, ser efetuada apenas através de pôsteres, painéis e cartazes. A peça publicitária pode ser exposta apenas na parte interna dos locais de venda (Lei nº 10.167 de 27/12/00). Além de ser obrigatório à embalagem e à propaganda exibirem imagens e advertências aos consumidores, referentes aos malefícios do tabaco (Resolução 104 de 31/05/01). Mais tarde, essa resolução foi revogada e estabeleceu-se a introdução de 10 novas advertências às embalagens e às peças publicitárias (Resolução RDC nº 335 de 21/11/03).
Graduada em Psicologia e Mestre em Comunicação Social, Suzana Gib Azevedo, acredita que a maneira como é feita a propaganda é que deve ser reorganizada. “Tudo que existe no social pode ser divulgado, depende de como, com que crítica e com que noção. Além disso, o consumidor também é exigente e percebe quando está exagerado. A sutileza é que faz com que as pessoas façam suas adequações do que recebem”.
Quando perguntada sobre a possibilidade de se fazer boas propagandas de cigarro, afirma que todas as divulgações feitas sempre foram boas, no entanto, antigamente eram glamourisadas. E cita um bom exemplo: “tinha uma campanha do Free (marca de cigarro) muito bem feita, que era criativa e sutil. Ela mostrava que as pessoas eram totalmente diferentes (autônomas, independentes, reprimidas, em dúvida, ansiosas). Onde várias cenas se sobrepunham uma sobre à outra e no final as pessoas apareciam fumando. Nada glamouroso. Apenas mostrava a realidade dos jovens (público alvo da propaganda). E no final dizia: ‘Free, você tem alguma coisa em comum’. Quer dizer, as pessoas eram totalmente diferentes, mas a marca do cigarro e as sensações proporcionadas eram as mesmas”.
Para Suzana, “a publicidade tem sim efeito persuasivo, bem como estratégias que influenciam e envolvem o consumidor, mas não é somente a publicidade. Ela é apenas um dos instrumentos sociais que atinge a população de diferentes formas”. Acrescenta ainda que “quanto maior o nível de informação das pessoas, maior o poder de crítica e o discernimento das coisas que estão acontecendo tanto no aspecto mundial quanto local.” Sobre o merchandising em filmes, ela acredita que pode estimular o consumo, mas apenas em pessoas que sejam predispostas. E frisa que as pessoas que aderiram ao consumo do cigarro ingressaram em um determinando grupo social que possui esse costume, independente da publicidade.
Já o advogado Lucas Chinato Sá concorda parcialmente com as restrições feitas em relação à propaganda de tabaco. “É fato que o produto causa malefícios à saúde, direta e indiretamente, tanto a fumantes quanto a não-fumantes. Em contrapartida, as pessoas têm o direito e a responsabilidade de optar por fumar ou não”. Salienta ainda que são necessárias restrições aos comerciais de tabaco, mas não a proibição da exibição de peças publicitárias. “Isso é o mesmo que atestar que o cigarro é uma droga. E sob essa ótica, seu consumo deveria ser proibido. E não apenas "ocultar" o produto”. Observa também que “conforme o mesmo raciocínio, deveriam ser utilizadas as mesmas restrições para o álcool, que também é maléfico à saúde pública”.
Segundo Chinato, aos infratores (responsável pela divulgação da peça publicitária ou veículo de comunicação) da Lei nº 10.167 são aplicadas multas entre R$ 5.000 e R$ 100.000. Além da suspensão da programação da emissora de rádio e televisão, pelo tempo de dez minutos, por cada minuto ou fração de duração da propaganda transmitida em desacordo com a Lei, observando-se o mesmo horário. Essas penalidades estão previstas no Código de Defesa do Consumidor e na Legislação de Telecomunicações.
Há 13 anos a veiculação de propagandas de cigarro foi proibida. Passado esse período, surge a indagação a respeito do efeito que esse veto causou. A Souza Cruz, a maior empresa do setor no Brasil, faturou R$ 443,3 milhões so no primeiro trimestre de 2009, com crescimento de 22% em relação a 2008. Isso leva a crer que o consumo do cigarro aumenta e a veiculação na mídia e seria apenas um dos fatores que levariam uma pessoa a começar a fumar.